terça-feira, 18 de agosto de 2020

Ação de Grumecs em nosso litoral

 




Ação de Grumec

Foi no começo dos anos 90, fui escolhido com mais 7 militares para cumprir uma missão real. Foi minha primeira missão real. Era no litoral de Pernambuco. O presidente na época era Itamar Franco e o comandante do estado maior das forças armadas era Almirante de esquadra Arnaldo Leite Pereira. Na mesma semana começamos os treinamentos, instruções e palestra. Foram apresentados novos armamentos e equipamentos. 

Nosso grupamento era pouco conhecido, mas isso era de propósito, o comando não queria muita atenção externa em nossas operações. Treinamos táticas noturnas de infiltração e sabotagem, desembarque e evasão, operação com explosivos, entre outras coisas. Mas o que estava acontecendo no litoral? Naquela época veio ao litoral brasileiro uma frota de navios pesqueiros de bandeira chinesa, estavam no limite das nossas águas territoriais. Os navios de patrulha costeira da marinha estavam na região, mas, quando eles se afastavam, as traineiras chinesas estavam avançando em nossas águas. 

Até aí tudo poderia ser resolvido com a diplomacia, mas tinha algo diferente acontecendo. Pescadores da região estavam relatando que navios de pesca, sem bandeira, avançavam em direção a eles até colidirem, e tinha relatos de disparo de armas de fogo em embarcações que passavam perto das traineiras chinesas. A marinha brasileira não poderia simplesmente atirar nos navios, porque não é assim que tudo funciona, ainda mais naquela época. E sempre que os navios da marinha aproximavam-se, as traineiras já estavam em águas internacionais. Complicada a situação. Quando foi inspecionado um dos barcos de pesca que foi alvejado pela traineira, a capitania dos portos relatou arma de grosso calibre, as mesmas usadas em embarcações de combate. As traineiras chinesas estavam ocultando militares treinados a bordo. Pois esse tipo de armamento não é qualquer um que opera.

 Deslocamo-nos para a região aerotransportado, chegando em Pernambuco onde o submarino S-31 Tamoio já estava nos esperando. Embarcamos e fomos para a localidade onde estavam as traineiras. Esperamos anoitecer, quando as traineiras agrupavam-se. Tínhamos que sabotar 10 embarcações em cinco horas, já tínhamos a estratégia planejada, treinamos varias vezes como seria feito para não haver erro. Levamos 50 quilos de explosivos em dois botes de borracha com quatro homens em cada. Os dois homens que ficaria um em cada bote fariam o papel de sniper eliminando os sentinelas de proa, se fosse preciso. Os chineses eram bem cuidadosos, à noite eles apagavam todas as luzes para os barcos não serem vistos à distância. Não se via movimentação no convés, a não ser um guarda. Chagamos tão perto que dava para ver o cigarro dele aceso. A intenção não era afundar as embarcações, mais sim danificá-las, mas ao chegar próximo vimos que entre as embarcações de madeira havia uma com a superestrutura feita em aço pintado como madeira, era a que fazia a segurança. Decidimos priorizá-la para a destruição. Foi usado um explosivo de corte para romper o casco em duas partes diferentes, próximo a popa, danificando a casa de máquinas com a água que entraria. Nas outras embarcações foi usado TNT para danificar o leme principal. O temporizador foi ajustado para uma hora e meia antes do amanhecer naquela região, causando tumulto e confusão entre eles. O mar estava muito forte aquela noite, mas o céu estava limpo. Dividimo-nos em três duplas, fora os snipers que ficaram nos botes. Duas duplas ficariam com três embarcações, e uma com quatro. Ao terminar, um de cada dupla voltaria para o bote e o outro ajudaria na embarcação de aço que fazia a segurança das traineiras. Terminamos rápido, pois o elemento de fixação dos explosivos era muito bom, equipamento importado, e aderiu com facilidade na superfície de madeira molhada. Eu voltei para o bote, e meu parceiro foi ajudar na ultima embarcação. Mais ou menos quarenta minutos depois estávamos todos nos botes e nos deslocamos para uma distância segura, esperando o acionamento automático dos explosivos. Mais ou menos uma hora depois do pronto do serviço, os explosivos começaram a ser acionados, com uma diferença entre a primeira explosão e a ultima de 30 segundos. Verificamos que todas as cargas foram acionadas e nos retiramos para um ponto previamente marcado para retirada com o submarino. Ao amanhecer com um sobrevoo de helicóptero, foi verificado que todas as embarcações chinesas foram danificadas e uma delas, que era a de segurança estava com uma inclinação de popa de 30° graus e afundando cada vez mais. Todas as embarcações foram danificas, e no final da tarde daquele dia, elas bateram em retirada, descartando parte da carga de peixe no mar. Nunca ganhei uma medalha por isso, mas a missão não era para ganhar medalha, e sim proteger a costa brasileira.

#grumec #mergulhadoresdecombate 




3 comentários:

Viva Uma vida saudável , você que já está chegando a meia idade recomendo esse livro.